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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Exposição lembra os cem anos da morte de Augusto dos Anjos

                           RAQUEL COZER – da Ilustrada - Folha de São Paulo
O poeta paraibano Augusto dos Anjos
Para um poeta com um só livro —"Eu", de 1912, ampliado oito anos depois no póstumo "Eu e Outras Poesias"—, pode-se dizer que o paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) chega multiplicado ao centenário de sua morte: entre boas edições impressas e caça-níqueis digitais, mais de dez casas mantêm hoje o poeta em seus catálogos.
Mas não é com entusiasmo que o meio editorial lembra hoje um dos maiores e mais inclassificáveis poetas do país, autor de versos célebres como "um urubu pousou em minha sorte" e "escarra nessa boca que te beija!".
Publicado em 1994 pela Nova Aguilar e reimpresso até 2004, o mais cuidadoso volume em torno da obra do poeta, "Augusto dos Anjos - Obra Completa", organizado por Alexei Bueno, está disponível só para quem der a sorte de encontrar algum remanescente à venda nas livrarias.
Neste ano, a Nova Aguilar passou da Nova Fronteira para a Global, que planeja recolocar o título no mercado apenas em 2016. A mesma Global tem uma das boas edições à disposição hoje, "Melhores Poemas", com seleção de José Paulo Paes. Outras, como a da José Olympio, com estudo crítico de Ferreira Gullar, seguem em catálogo, segundo a editora, embora estejam indisponíveis em praticamente todas as livrarias virtuais.
Nesse cenário, coube à Casa das Rosas, em São Paulo, a maior homenagem à data, com a mostra "Esdrúxulo: 100 Anos da Morte de Augusto dos Anjos", aberta ao público nesta quarta (12). O título refere-se ao crítico Anatol Rosenfeld, que definiu seu trabalho como "paroxítono, esdrúxulo, dissonante".
Com 29 poemas, diversos manuscritos e documentos, além de vídeos sobre o poeta, a mostra busca resgatar sua obra centenária a partir de três grandes temas: a morte, as ciências e a transformação permanente da vida.
"A dificuldade de sua poesia está associada aos temas escatológicos, ao vocabulário denso, com termos técnicos e científicos, e à linguagem estranha, incomum na poesia brasileira", diz o curador, Julio Mendonça.
Um dos documentos, uma declaração de 1977 assinada pelos filhos, encerra uma disputa de décadas entre a Cruz do Espírito Santo (PB) natal de Augusto dos Anjos e a mineira Leopoldina (MG), onde morreu aos 30 anos. O termo determina que fiquem nesta última os restos mortais do poeta.
A casa onde Augusto dos Anjos viveu os últimos cinco meses de vida, em Leopoldina, é hoje um pequeno museu onde ficam seus manuscritos –e um único objeto pessoal, uma colher, que segundo a filha pertenceu a ele. 
Sem direito aos restos mortais, a paraibana Cruz do Espírito Santo cuida da parte que lhe cabe. Há pouco, iniciou a poda e revitalização do pé de tamarindo eternizado em versos como "no tempo de meu Pai, sob estes galhos/ como uma vela fúnebre de cera/ chorei bilhões de vezes com a canseira/ de inexorabilíssimos trabalhos".